quinta-feira, 21 de abril de 2011

Avô do Brasil (parte 2) ...e os quarenta capoeiristas!

Voltando à história daquele nosso colega  que chamamos aqui de Frajola, retomarei a narrativa com uma de suas peripécias mais notáveis.
Frajola, além de ser um narrador incansável, era um homem inflamável. Bastava a gente piscar os olhos e lá estava ele se metendo em confusão. De vez em quando até no PA rolava uns arranca-rabos. Por isso ouvimos atônitos quando ele nos contou essa história.
Dizia ele que estava num bar nas redondezas de onde ele mora tomando umas cervas e, não se sabe como e nem porque, se desentendeu com um certo sujeito. Xinga daqui, acusa dali, e os dois resolveram partir para as vias de fato. O pior é que o cara era instrutor de capoeira, mas Frajola não estava nem aí pra isso, mexeu com ele está mexendo com o diabo. E para completar o capoeirista estava junto com a sua turma toda. Eram 40 capoeiristas! Mas para o Frajola isso não queria dizer nada, quem bate em um bate em mil.
E caíram na porrada. Os capoeiristas vinham dando saltos mortais, rabo de arraia, cabeçadas e tudo mais. E o Frajola se esquivava de todos os golpes como um verdadeiro mestre jedi, e ia estraçalhando os adversários utilizando uma técnica até hoje desconhecida. Um desempenho realmente extraordinário que mais tarde foi copiado na ficção por atores como Bruce Lee e Jackie Chan.
Frajola fazia tudo isso ainda segurando um copo de cerveja e rindo. Nesse momento os capoeiristas resolveram apelar e se armaram de pedaços de pau. Aí o Frajola se zangou, afinal meter o pau por trás é sacanagem. Deu um tremendo cacete nos 40 capoeiristas e levou todo mundo para a delegacia.
Chegando na delegacia ele já conhecia o delegado dos seus tempos de coronel do exército e foi logo falando:
-Prende tudo mundo aí!
O delegado, assustado com toda aquela gente em estado deplorável entrando na delegacia, tentava argumentar com o Frajola, mas este se mostrava inflexível. Falava em honra, moral e coisa e tal.
Até que o pai de um dos capoeiristas chegou na delegacia e, ao ver o Frajola, o reconheceu de um show. Eu já lhes contei que ele também era músico? Pois bem, o cara era um fã seu e comovido Frajola resolveu não prender os rapazes.

Fantasia? Delírio? Vocês que o digam pois eu é que não tenho coragem de desmentir um cara que já bateu em quarenta capoeiristas.

sábado, 16 de abril de 2011

Eu não sei o que dizer que os bombeiros não fazem

Trabalhar com os bombeiros era muitas vezes divertido.
Quando a gente chegava no quarteirão com aquela tropa de bombeiros olhando para o alto para verificar o número do quarteirão ou do prédio as pessoas ao redor pensavam logo que se tratava de algum incêndio, sempre tinha alguém pagando algum mico ou contando piadas, eles só queriam andar de viatura mesmo que fosse por cem metros, e eles topavam qualquer parada com a condição de que a hora sagrada da folga fosse preservada.
E tinham as bombeiras. Alguns ACEs ao invés de prestar atenção no Corpo de Bombeiros, preferiam ficar de olho no corpo das bombeiras.
Havia uma bombeira que dizia que sempre teve curiosidade de entrar em um centro de lazer, ou na linguagem popular, um puteiro. A galera ficou na dúvida sobre qual seria exatamente a sua curiosidade. Sabe-se lá, né.
Mas ela teve a sua vez.
Estávamos trabalhando em um bloqueio, haviam mais de 40 bombeiros trabalhando conosco, e fazíamos os quarteirões em multirão. Em um dos quarteirões, depois de dobrar uma esquina, o ACE que estava guiando a turma percebeu que de repente vários bombeiros do seu grupo haviam sumido. O ACE voltou alguns imóveis para tentar saber o que estava acontecendo e descobriu que eles tinham parado num puteiro no meio do caminho.
Lá dentro tinha bombeiro dançando, abraçando as putas, e até a tal bombeira que disse que queria conhecer um puteiro estava lá rebolando. Em resumo, a festa estava muito boa. Mas tão boa que quando o ACE chamou um tenente para tirar o seu pessoal de lá, ele teve que chamar o capitão para tirar o pessoal e mais o tenente. E se bobeasse teria que chamar o major, o coronel e assim por diante.
Sei que alguns dos nossos colegas fariam o mesmo, mas enquanto os ACEs fazem atrás da porta, os bombeiros faziam no meio da sala.

Nossos "amigos" vermelhinhos

Que tem ACE figura isso todo mundo já sabe, mas existem outras categorias que também se revelam grandes fontes de adventures. Falo dos nossos amigos de vermelho, os bombeiros. Pois eu estou começando a achar que basta atribuir a função que os camaradas se revelam.
Por uma jogada política os bombeiros foram recrutados para ajudar no controle da dengue.
Imaginem vocês uma turma de ACEs combatendo um incêndio, pois era assim que estavam os bombeiros que vieram nos "ajudar".
Certa vez foi passado a um bombeiro um quarteirão que era uma praça. Nada difícil. Só vistoriar a praça e voltar. Mas o tempo foi passando, os seus colegas já haviam todos voltado e ele nada de aparecer. Quando o supervisor já começava a se preocupar ele foi chegando todo atrapalhado com o preenchimento dos FADs. Entregou toda a produção e foi correndo embora com os outros vermelhinhos. Achamos estranho que em um quarteirão que era uma praça ele vistoriou mais de 40 imóveis. Como ele poderia ter feito tal multiplicação? Depois de muita especulação acabamos por perceber que ele pensou que era para fazer vistoria em todos os imóveis que tivessem como endereço a praça, então ele fez todos os imóveis ao redor da praça, mesmo sendo de outros quarteirões.
Tudo bem, erro de interpretação.
Algumas vezes um bombeiro errava a curva do quarteirão e seguia direto pela rua. Erro de interpretação.
Ás vezes os bombeiros pensavam que bastava fazer 22 imóveis e ir embora. Erro de interpretação.
Ás vezes o bombeiro simplesmente ia embora. Erro de interpretação.
Tinha bombeiro que pensava que bastava anotar o número do imóvel que já estava combatendo a dengue. Erro de interpretação.
Tinha bombeiro que nem levava material. Erro de interpretação.
Quantos erros de interpretação, né?
Melhor deixar pra lá, pois na verdade a maioria deles era gente boa e esforçada.
Sem falar que é inegável que eles são muito mais bem vistos pela população do que nós. Depois que eles passavam só faltava o morador dizer assim pra gente: "quem é você pra falar que aqui tem foco se o bombeiro falou que não tem nada?", mesmo que o bombeiro nem tivesse passado da porta.

Ah, se nós tivéssemos essa moral!

sábado, 9 de abril de 2011

Avô do Brasil (parte 1)

Há também a história, ou seria melhor eu dizer as histórias de um ACE lendário, mítico, uma verdadeira fábula ambulante. Eu o chamarei aqui de Frajola.
Frajola é um ACE experiente, um homem bem vivido, sábio, que já passou por muitas adventures. Nos conta ele que já atuou nos mais diversos ramos e setores de trabalho. Entre outros empregos ele já trabalhou na Cosigua (seja lá o que for isso), já foi major do exército, já trabalhou com refrigeração, já foi músico, cervejeiro, eletricista, radialista, vendedor, assessor de político, jogador de futebol, e muito mais. Dizem as más linguas que já foi até puta, mas isso é intriga da oposição.
Reza a lenda que uma vez tentaram somar todo o tempo de serviço que ele possui mas acabaram desistindo quando a conta já superava os duzentos anos. Se bem que eu não duvido, não. Uma vez nós estávamos às vésperas do carnaval e a turma estava conversando no PA e o assunto era a folia, foi quando o Frajola mandou essa pérola:
-Vocês sabem quem foi que inventou o Bloco das Piranhas? Lembram do Moisés?...
Nooossa!!
O cara é contemporâneo de Moisés!
E pior, dá pra imaginar o velho patriarca bíblico no Bloco das Piranhas?!
É por essas e outras que quando ele falava alguma coisa desse gênero a galera dizia "Ah velhô!" e vinha ao fundo a vinheta da Voz do Brasil, neste caso, o Avô do Brasil.
Mas se tem uma coisa que ele sabe fazer bem é falar desenfreadamente. Tagarelar mesmo. E não importa qual seja o assunto, o cara é fera e provavelmente até já trabalhou com isso.
Certa vez, essa ninguém me contou, eu mesmo testemunhei, nós estávamos trabalhando em uma pequena vila quando uma vítima moradora deu espaço para o Frajola falar, e ele realmente falou, e falou muito, falou pra caramba mesmo.
Foram exatos 138 minutos de conversa. Aliás aquilo não era bem uma conversa pois em uma conversa existe diálogo, as duas pessoas se comunicam. Mas Frajola não dava a menor chance para a pobre moradora e toda vez que o papo parecia que iria acabar ele já vinha puxando outro assunto.
Coitada da moça, espero que ela não tenha ficado com uma má impressão da gente.